segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Capítulo 6 : Caju

-Estão satisfeitos?- Começou Marcos, praticamente cuspindo as palavras. –Vocês achariam mesmo que às três e meia da manhã o cemitério estaria aberto? Pensaram que os mortos estariam nos esperando pra tomar um café?



-Cala a boca, Marcos! Ivan me dá apoio aqui, vamos pular o muro.


-Tá, segura a lanterna.


-Vocês dois estão malucos? Eu vou ficar por aqui mesmo.


-Marcos, aqui dentro só tem gente morta. Você prefere ficar aí fora? Estamos no Caju, não na Lapa. É melhor você entrar com a gente e não ficar aí à mercê de qualquer um.


Realmente, o cemitério São Francisco Xavier, ou cemitério do Caju, era enorme e a rua lateral paralela onde eles estavam era de frente para a Santa Casa de Misericórdia. Ali perto havia favelas, duas avenidas e o porto do Rio. Ou seja, vazio às três e meia da manhã.


O lugar é famoso pela falta de segurança de dia e não era muito diferente à noite. O cemitério é gigantesco e a chance de encontrar com algum guarda era uma em dez. Mas o medo deles não era esse e sim o fato estranho de ter que entrar em um cemitério para quem sabe encontrar o túmulo de Carlos e quem sabe encontrar alguma pista.


Marcos não quis ficar sozinho e pulou junto, afinal era melhor deixar o carro sozinho e ser roubado que ficar com ele e acabar no cemitério do mesmo jeito.


Tinham apenas duas lanternas e nenhuma coordenada de onde seria o túmulo de Carlos.


-Aonde vamos primeiro, meninos?


-Vamos começar de lá de cima. São as covas mais recentes. Aqui embaixo tem apenas os jazigos de família, como a nossa. O professor era de São Paulo, não tinha jazigo antigo aqui. –disse Ivan, medonhamente sabendo do assunto.


-Nunca pensei que fosse pisar aqui tão cedo. Já não bastava estar aqui só pelo tio Mauro... Tinha que estar aqui de novo?!


-Ei, cala a boca. Estamos escondidos aqui. –Laura adorava mandar os outros se calarem. - Amanhã, terei de me confessar na igreja. Não poderia estar perturbando os mortos.


-Os mortos não vão se queixar, Lau. Vamos continuar andando.


Demoraram uma hora e meia. Nisso se esconderam duas vezes por causa dos guardas, encontraram dois maconheiros e um grupo de góticos.


-Bom parece que estamos perto. –Ivan já estava cansado. –Tem muitas covas novas aqui, agora é só procurar o professor.


-Bom, acho que ele realmente era querido. Acabei de achar a cova com mais flores.


-Parabéns Marcos, a primeira coisa útil que fez! –Dessa vez Laura não usou sua ironia.


-Nossa, pra quê tantas coroas de flores? Nem papai teve isso tudo. –Ivan falava e mexia nas coroas. –Faculdade... Amigos... Amigos...


-Satisfeitos? Podemos ir dormir agora?


-Nossa esta aqui está assinada com uma caveira. Que tosco! Olha Ivan.


-‘F.E.C.’, merda. Ok gente, vamos embora. –Ivan estava atordoado.


-Que foi, primo? Aconteceu algo?


-Aconteceu sim. Vamos embora daqui antes que eles abram o cemitério.


Ivan andava com pressa, se lembrando do lenço na doma de vidro que havia encontrado na biblioteca da mansão, com as mesmas iniciais.


Será que o pai dele tinha algo em comum com o professor?


Pularam o muro e estavam atravessando a rua quando foram surpreendidos por alguns homens que foram imobilizando os três e tapando suas bocas. Um deles pegou as chaves do carro no bolso de Ivan e saiu guiando. Os outros homens empurraram os três na caçamba de uma caminhonete de carga.


-O que está acontecendo? –Laura choramingava baixo. – Quem são esses caras?


-Devem ter visto a gente entrar, se não, como saberiam que aquele era meu carro?


-Ivan, isso está muito estranho. Juro que estou com medo de morrer.


-Vamos ficar quietos, pelo menos não nos machucaram ainda. –Ivan abraçou Laura e Marcos se sentou perto da porta para tentar ouvir algum barulho que ajudaria a saber onde estão.


Sentiram que rodaram dentro do carro por cerca de vinte a trinta minutos.


A caminhonete freou.


O barulho dos trincos se abrindo deixava os três tensos. Poderiam executá-los ali mesmo ao abrir a porta. Poderia ser um seqüestro. Poderia ser apenas para roubar a Land Rover de Ivan e rodaram com o carro para deixar eles longe e não haver pistas.


Um homem abriu a porta.


Quando se acostumaram com a luz entrando novamente na caçamba, veio o reconhecimento dos rapazes:


-Vovô?






2 comentários: