Ivan entrou na biblioteca da mansão, ligou o computador, pegou seu mp3 e conectou nele. Em um momento chato, nada melhor que suas músicas favoritas para tocar.
Motörhead sempre o distraía. Mas desta vez não foi assim, ele percebeu que nunca tinha entrado na biblioteca para ver os livros. O computador era sempre o alvo, era o que tinha mais memória e sempre rodava tudo mais rápido.
Vários livros sem nome, uns bem velhos, uns manuscritos com símbolos que ele não entendia.
-Papai sempre foi excêntrico, vai entender pra quê isso...-resmungou consigo.E logo pegou um lenço que estava em uma doma de vidro.-‘F.E.C.’ ,que merda seria isso?
-Não deveria chamar os objetos de seu falecido pai de ‘merda’.
-Desculpe, vovô .-disse Ivan, se recuperando do susto.
-Também não deveria escutar rock tão alto. Deveria estar em luto.
-Perdão, vovô.-Ivan respeitava muito seu avô. Principalmente por ser um ex-militar ainda reconhecido pelas forças armadas. Desligou sua música e disse: - sabe papai sempre foi muito enigmático. Estava sempre cercado por pessoas importantes e nunca nem sequer me dava atenção. Lembro da mamãe reclamando isso também...-A frase de Ivan foi cessada por um tapa daqueles que tanto fazem barulho quanto ardem também.-Vo-vovô.
-Você deveria se calar, garoto. Sua mãe de nada sabia, não respeitava a posição importante de seu pai. E me parece que você puxou a ela. Honre pelo menos o sobrenome que você herdou de minha parte da família. -O velho senhor Michael Kreischer, de bengala e boina, saía pela porta da biblioteca, sem olhar pra trás.
Ivan, sem entender nada ainda, colocou o lenço de volta na doma e chorou. Não pelo tapa, não pelo seu pai. Chorou a morte de sua mãe, como nunca havia chorado.
Marcos dormiu no mesmo quarto que Ivan. Bem, não dormiram. Ficaram jogando no laptop de Marcos a noite inteira. E como sempre, Marcos jogava , falava sobre mulheres e seus hilários encontros sexuais com algumas delas.
Como sempre, fazia Ivan rir.
De manhã, os dois primos resolveram dar uma volta pela praia e de tarde Ivan foi à faculdade.
Todos sabiam do acontecido. Ou por fofoca ou pela imprensa.
Ivan só não detestava a imprensa porque cursava comunicação, afinal eram seus colegas de trabalho que estavam ali.
Laura veio falar com ele. Simplesmente uma linda e encantadora menina que pra desespero de Ivan, sempre foi apenas uma amiga.
-Ei, me acompanha depois da aula? Quero te pagar um café.
-Café, Laura?
-É que inaugurou um pub em Copa. Toca uns rocks legais e jazz. E fora que eles têm um acervo gigante de cervejas de garrafas verdes e azuis, que você tanto gosta. Vem comigo.
-Sabia que tinha álcool. Mas deixa então seu carro lá em casa e a gente vai no meu, ok?Onde está o professor que nunca chega? Vou deixar ele do lado de fora da sala, como ele costuma me deixar quando estou atrasado!-Nesse momento entra a coordenadora do curso:
-Boa tarde, sentem-se todos. Venho lhes informar que o professor de vocês que leciona a matéria de história da comunicação, Carlos Vieira de Carvalho, faleceu no início da tarde. Como normas da faculdade, darei aula à vocês hoje, e na semana que vem estaremos com outro professor. O dia, e o horário do velório e enterro de nosso amigo serão enviados para o e-mail de vocês. Agora peço um minuto de silêncio em respeito ao grande homem que perdemos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário