terça-feira, 31 de agosto de 2010

Capítulo 9 : Diamantes e caveira

  Marcos e Ivan desceram e tiraram Laura da calçada. Entraram pela garagem para que ninguém a visse ensanguentada e subiram ao flat.
  -O que aconteceu, Laura? Te machucaram também?-Ivan colocava a mão em sua barriga, onde estava mais suja. E pegando o copo de água que Marcos oferecia, ela disse:
  -Não, esse sangue é do professor. O acertaram de raspão no pescoço, antes de ele entrar no carro. Atiraram novamente quando ele fugia por isso o carro bateu.
  Marcos se espantava com a frieza da garota. Filha de atiradores esportivos ela certamente sabia do que estava falando. Respirou fundo e disse a ela:
  -Laura, tome um banho e jogue fora essa camisa. Ivan deve ter alguma camisa de time que possa te emprestar, assim não ficará parecendo um menino.
  -Tá. Onde tem toalhas, Ivan?
  -No meu guarda-roupa, segunda porta de cima à direita.
  Quando Laura saiu da sala, Marcos cochichou:
  -Cara, onde estavam os seguranças quando aconteceu tudo isso? Eles nos seguiram da mansão até aqui, quando viram a Laura do lado de fora com certeza deveriam ter ficado à espreita.
  -Acha que eles atiraram? Acredita que os homens que vovô contratou são para execução?
  -Sei lá, mas eles nem sequer foram até nós quando tiramos a Laura da calçada, né?
  -Tá, mas e se eles não estivessem realmente lá?
  -Merda, Ivan! Se eles são nossos seguranças, onde mais deveriam estar?
  -Só não queria acreditar nisso.
  -Ivan, seu shampoo acabou. No banheiro não tem mais. -Laura apareceu apenas de toalha, sem cerimônias. -Onde posso pegar?
  -Ah, nas bolsas na cozinha. Fiz compras na terça e larguei lá. -E se levantando para buscar, continuou, a falar. -Teve a morte do meu pai na quarta e ontem fomos ao pub e ao cemitério... -parou, olhando para uma mesinha no canto da sala.
  -O que foi, Ivan?
  -A mochila do professor. Continuou aqui. -e a abrindo, continuou-Tá cheia de coisas realmente pessoais, não roupas. -e abrindo uma caixinha de anel, disse:- Deus!Uma caveira. Com diamantes e as siglas F.E.C. .Acho que esse não era um anel de formatura.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Capítulo 8 : Segunda morte

Carlos suava frio e não sabia onde esconder aquela cara de criança culpada.



-Entra no carro agora mesmo e tenta me dar um motivo pra não te dar uma surra e te largar na delegacia. –Marcos fazia um esforço supremo para não bater em Carlos ali mesmo.


-Não, meninos... Por favor...


-Por favor? Para com esse draminha de quinta! Você bem sabe que se a gente chamar a polícia, não dará em nada. – Ivan era incisivo e não piscava os olhos enquanto encarava Carlos. –Vocês têm um trato, de alguma forma. Nenhum perito ou funcionário do IML ia confundir você vivo, com um cadáver. Quanto de propina rolou no meio disso tudo?


- Garoto, você e seus amigos não sabem de nada. Por favor, tenho que zelar por minha esposa e filha. É melhor pra elas que eu fique longe. Não quero que nada de mal aconteça.


- E você não acha que está fazendo mal se fingindo de morto? O que vocês homens têm na cabeça? Você destruiu sua própria família!


-Menina, tudo isso é relativo. Se vocês soubessem...


-Disse tudo, Carlos. Pague os mecânicos e entre no carro da Laura. –E se virando para Marcos, Ivan continuou: - Dirija o carro dele, vamos lá pra casa para conversar com um certo espírito.


-Ei, menina! –Gritou um dos mecânicos. – Não vai querer mais o balanceamento?


-Não, depois eu volto. Desculpe.


Laura dirigia para o flat com Ivan e o professor Carlos no banco de trás. Marcos vinha os seguindo de perto com o Celta.


O Celta ficou estacionado na rua, enquanto Laura estacionava seu carro na garagem de Ivan.


Subiram.


-Comece a falar tudo. Não somos idiotas. Ninguém forja a própria morte à toa.


-Ivan, não forjei minha própria morte! –Carlos falava alto, mas o tom de sua voz era de segredo, como se não quisesse que as paredes ouvissem. –Eu escapei dela. E agora querem me matar porque já sabem que não morri.


-De que você está falando, professor? Quem ia fazer isso com o senhor?


-Menina, há muito mais coisa por trás de tudo que vocês pensam que existe.


-Por que a polícia disse que você estava morto, então? –Marcos pegava uma cerveja. –Quanto você pagou pra polícia por isso?


-Eu, nada. Alguns amigos meus que me ajudaram. A polícia também quer saber quem tentou me matar. Por isso aceitaram que eu fingisse a minha morte. E fora que eu sei de muitos podres de metade do batalhão daqui. Ninguém ia querer que eu abrisse minha boca.


-Falando no assassino, você por acaso não o viu? E o que foi usado para te machucar tanto assim desse jeito. Você está todo cheio de gaze no pescoço, provavelmente está com as costas enfaixadas e simplesmente ia dirigir e deixar seu assassino impune?


-Ivan, meu corpo não importa. O assassino estava encapuzado. Me atacou pelas costas com algo que rasgava minha pele. Quando ele atingiu meu pescoço eu desmaiei. Acho que na pressa, ele não verificou se eu ainda estava vivo. Minha empregada me encontrou e chamou a polícia e os para-médicos. Mas quando me reanimaram ela estava chorando em um canto e não se deu conta de que estava vivo. Minha mulher manteve distância, protegendo minha filha. Por favor, deixem-me ir enquanto há tempo. Pegue na minha mochila o endereço onde ficarei, darei todas as explicações que desejarem, mas não posso ficar mais aqui no Rio. Quando tirar meu passaporte falso, irei para Roma e morrerei por lá.


-E como vamos saber que ficará lá mesmo? Que não fugirá novamente? –Ivan se desesperava, mas não poderiam prender Carlos no flat. Poderia ser perigoso.


-É uma pequena pousada em Santos. Só poderia me esconder por lá, meninos. Agora me deixem ir, por favor.


Os três se entreolharam por um instante e Marcos disse:


-Ok, tá aqui as chaves do carro. Ligaremos para ir lá tirar satisfação.


-Eu desço com ele. –Disse Laura, dando apoio ao debilitado professor.


-Adeus, meninos.


Viraram-se e desceram.


Na rua, Laura se despedia de Carlos.


-Menina, lembrem-se de nunca confiar em qualquer pessoa que for.


-Principalmente no senhor. Vai com Deus, e cuide-se.


Foi ela dizer isso e sua blusa ficou quente, olhou e estava vermelha.


Sangue.


Havia sido vítima de bala perdida? Onde teriam a acertado? Ela se assustava, mas só sentia o calor e nada doía. A quantidade de sangue fez com que ela ficasse zonza e caísse sentada no chão.


Olhou mais uma vez para seu corpo e olhou para o carro.


Não havia sido ela a vítima. Carlos estava ligando o carro para sair, quando Laura percebeu que o pescoço dele sangrava incontrolavelmente, e em vão, tentava estancar o sangue com a mão esquerda.


Ligou o carro e saiu rápido, desgovernado. Chegou a uns cinquenta metros e Laura escutou um estampido.


Estampido esse que fez Marcos e Ivan irem à janela.


O vidro traseiro do carro estava estilhaçado, algo provavelmente entrou certeiro no carro.


Outro tiro?


O que quer que fosse, havia acertado Carlos. O carro, desgovernado atingira a vitrine de uma loja na esquina.


Gritos começavam a surgir quando alguns olhavam para o corpo de Carlos tentando ajudar.


Quem fez aquilo não queria matar Laura.


Não queria matar qualquer um.


Quem fez aquilo, conseguiu matar Carlos pela segunda vez.


E, certamente, agora sabia que o trio estava envolvido.


terça-feira, 17 de agosto de 2010

Capítulo 7 : Explicações

-O que vocês pensam que estão fazendo?- Disse o avô de Ivan, quando a porta da caminhonete foi aberta.




-Nós? Olha só como o senhor está tratando a gente! Acha isso certo?


-Calada, menina.Estou falando com meus netos.


Isso fez com que Laura murchasse.


-Como você sabia onde estáva-mos, vovô- Ivan estava com mais raiva da situação do que qualquer pessoa, e suas palavras saíam exalando ódio.


-Estou mandando pessoas vigiarem vocês dois desde a morte de seu pai.


-Mas e eu? Meu tio morre e eu que tenho que ser vigiado?


-Marcos, não se faça de idiota. Alem de você ser da família, está sempre com Ivan. Não sei quem matou meu filho e não quero que matem meus netos. Por acaso acham que sou o que?


-Um crápula. –resmungou Laura, levando uma cotovelada de Ivan.


-Desçam da caminhonete, comam alguma coisa e durmam.


-E onde está meu carro, vovô?


-Chegando com um dos seguranças nesse exato momento. Boa noite.- e o Sr Michael , com sua bengala e boina, adentrou na mansão sem nem olhar pra trás.


A caminhonete e os seguranças saíram da entrada sem falar nada com eles.


Em instantes, todo o tumulto às cinco horas da manhã, se transformou em vazio.


-Hum...ok...alguém me empresta uma roupa pra dormir aqui?


-Pode dormir nua, Laura.


-Ivan posso dormir com você ,bem longe do Marcos?


-Sim, pode dormir na minha cama. Eu e Marcos dormiremos no colchão no quarto.


-Ué, cara? Vamos pro quarto de hóspedes.


-E você acha que vou deixar de escapar a possibilidade de dormir com ela?


E riram, tentando fazer de conta que nada naquela noite havia acontecido.


O susto com os seguranças fez os dois se esquecerem de perguntar porque Ivan tinha saido correndo do cemitério.


Mas nada disso saia da cabeça de Ivan. Porquê a coroa de flores escrito F.E.C. com uma caveira? Por que o pai dele tinha um lenço com as mesmas iniciais e por que parecia que seu avô sabia mais coisas?


No momento, parecia ser mais importante ter as pessoas que ele gosta por perto. Lau e Marcos por mais que briguem o dia todo, são pessoas adoráveis e nesse momento estavam disputando os sacos de Doritos e as garrafas de cerveja no mini freezer de Ivan.


-Gente, eu vou mesmo para a igreja hoje quando amanhecer.Tenho que me confessar por ter invadido o cemitério. Deus me livre!


-Laura, não é pra tanto. Estão todos mortos. -Marcos falava, comia e bebia.Tudo junto.


-Credo, Marcos! Mas eu vou sim. Faz tempo que não me confesso. Sinto falta de colocar as coisas erradas que fiz para fora.


-Se um dia você fizer uma tatuagem na bunda e achar que foi errado, estamos aí.


-No Ivan você não bate porque?


-Bom, Marcos, são pessoas e pessoas.


Isso fez Ivan pensar novamente.


-Já que eu tenho sorte, pega uma cerveja aí pra mim e senta aqui que tenho que falar algo com vocês.


Ivan achava que estava na hora de compartilhar com os amigos o que sabia, afinal se meteram em confusão por conta dele. Estava confuso sobre a sigla que achara no lenço do pai e na coroa de flores do professor.


Quem teria dado isso à eles seria quem também quem tinha os matado?


Amanheceu.


Acordaram cedo para Laura ir à igreja. Tomaram café no quarto e foram de carro ao flat de Ivan, para que Laura fosse embora com seu carro.


-Alguém quer ir comigo? Logo aqui no Leblon.


-Ah, to sem nada pra fazer mesmo! -Marcos ainda cheirava a Doritos.


-Vamos, depois de dar um passeio pelo cemitério, ir à igreja não nos fará mal. Depois podemos dar uma volta na praia e almoçar juntos lá no flat. Peço um japa pra gente.


-Oba! Mas quando pararmos no seu flat, vamos à igreja no meu carro. Não quero que aqueles seguranças nos sigam novamente no carro de vocês. -Mas vamos passar lá naquele borracheiro antes, tenho que dar uma revisada nos meus pneus.


Saíram os três da mansão, no carro de Ivan, e chagando ao flat pegaram o Punto preto de Laura com os vidros escuros e rodas cromadas. Não tinha como os seguranças à paizana saberem que aquele era o carro de uma frágil jovem.


‘Frágil’.


O borracheiro não era muito longe de lá e rapidamente estavam no local.


Os poucos funcionários que trabalhavam lá estavam em uma correria de dar pena. Havia um Celta preto com vidros da mesma cor e estava ganhando toda a atenção.


-Oi, desculpa. Vocês estarão ocupados assim o dia todo, ou terão algum momento livre pra encaixar meu carro? -Laura meio que tacava as palavras para quem pudesse ouvir.


-Senhorita, desculpe. -Um dos borracheiros tentava limpar as mãos em um pano mais sujo ainda para se dirigir á ela. - É que faz vinte minutos que um senhor deixou esse carro aqui pra revisar tudo e ele já vem busacr daqui a pouco. Mas já vamos atender a senhorita.


-Nossa! Mas só vinte minutos pra fazer tudo? É um sem juízo! Tem poucos homens aqui, claro que não ia dar!


-Pensamos isso também, mas ele nos pagou tudo antecipado e nos deu muito mais que eu ia cobrar. O ruim é que ele já nos ligou dizendo que estava vindo. Por isso estamos correndo.


-Nossa, ok. Vou esperar aqui no carro. - e se voltando para os e meninos disse -Vamos sentar aqui no carro que é mais limpinho, né? Ouvir uma música, sei lá.


-Sim, é o jeito.


-Gente, é melhor a gente ir logo pra igreja.


-Por quê, Ivan? Virou católico ao extremo agora?


-Eu vou só esperar eles darem uma balanceada nos meus pneus, porque essa pressa?


- Meu carro já está pronto? - um homem gordo e quase completamente careca entrava com pressa na borracharia - Tenho que pegar a Rio Santos antes que engarrafe.


- Eu achava que mortos faziam apenas uma viajem espiritual e não em um carro, professor Carlos.


- Ivan e Marcos Kreischer. Laura...o quê... eu...


- É melhor você respirar fundo e nos falar porque eu chorei pela sua morte à toa.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Capítulo 6 : Caju

-Estão satisfeitos?- Começou Marcos, praticamente cuspindo as palavras. –Vocês achariam mesmo que às três e meia da manhã o cemitério estaria aberto? Pensaram que os mortos estariam nos esperando pra tomar um café?



-Cala a boca, Marcos! Ivan me dá apoio aqui, vamos pular o muro.


-Tá, segura a lanterna.


-Vocês dois estão malucos? Eu vou ficar por aqui mesmo.


-Marcos, aqui dentro só tem gente morta. Você prefere ficar aí fora? Estamos no Caju, não na Lapa. É melhor você entrar com a gente e não ficar aí à mercê de qualquer um.


Realmente, o cemitério São Francisco Xavier, ou cemitério do Caju, era enorme e a rua lateral paralela onde eles estavam era de frente para a Santa Casa de Misericórdia. Ali perto havia favelas, duas avenidas e o porto do Rio. Ou seja, vazio às três e meia da manhã.


O lugar é famoso pela falta de segurança de dia e não era muito diferente à noite. O cemitério é gigantesco e a chance de encontrar com algum guarda era uma em dez. Mas o medo deles não era esse e sim o fato estranho de ter que entrar em um cemitério para quem sabe encontrar o túmulo de Carlos e quem sabe encontrar alguma pista.


Marcos não quis ficar sozinho e pulou junto, afinal era melhor deixar o carro sozinho e ser roubado que ficar com ele e acabar no cemitério do mesmo jeito.


Tinham apenas duas lanternas e nenhuma coordenada de onde seria o túmulo de Carlos.


-Aonde vamos primeiro, meninos?


-Vamos começar de lá de cima. São as covas mais recentes. Aqui embaixo tem apenas os jazigos de família, como a nossa. O professor era de São Paulo, não tinha jazigo antigo aqui. –disse Ivan, medonhamente sabendo do assunto.


-Nunca pensei que fosse pisar aqui tão cedo. Já não bastava estar aqui só pelo tio Mauro... Tinha que estar aqui de novo?!


-Ei, cala a boca. Estamos escondidos aqui. –Laura adorava mandar os outros se calarem. - Amanhã, terei de me confessar na igreja. Não poderia estar perturbando os mortos.


-Os mortos não vão se queixar, Lau. Vamos continuar andando.


Demoraram uma hora e meia. Nisso se esconderam duas vezes por causa dos guardas, encontraram dois maconheiros e um grupo de góticos.


-Bom parece que estamos perto. –Ivan já estava cansado. –Tem muitas covas novas aqui, agora é só procurar o professor.


-Bom, acho que ele realmente era querido. Acabei de achar a cova com mais flores.


-Parabéns Marcos, a primeira coisa útil que fez! –Dessa vez Laura não usou sua ironia.


-Nossa, pra quê tantas coroas de flores? Nem papai teve isso tudo. –Ivan falava e mexia nas coroas. –Faculdade... Amigos... Amigos...


-Satisfeitos? Podemos ir dormir agora?


-Nossa esta aqui está assinada com uma caveira. Que tosco! Olha Ivan.


-‘F.E.C.’, merda. Ok gente, vamos embora. –Ivan estava atordoado.


-Que foi, primo? Aconteceu algo?


-Aconteceu sim. Vamos embora daqui antes que eles abram o cemitério.


Ivan andava com pressa, se lembrando do lenço na doma de vidro que havia encontrado na biblioteca da mansão, com as mesmas iniciais.


Será que o pai dele tinha algo em comum com o professor?


Pularam o muro e estavam atravessando a rua quando foram surpreendidos por alguns homens que foram imobilizando os três e tapando suas bocas. Um deles pegou as chaves do carro no bolso de Ivan e saiu guiando. Os outros homens empurraram os três na caçamba de uma caminhonete de carga.


-O que está acontecendo? –Laura choramingava baixo. – Quem são esses caras?


-Devem ter visto a gente entrar, se não, como saberiam que aquele era meu carro?


-Ivan, isso está muito estranho. Juro que estou com medo de morrer.


-Vamos ficar quietos, pelo menos não nos machucaram ainda. –Ivan abraçou Laura e Marcos se sentou perto da porta para tentar ouvir algum barulho que ajudaria a saber onde estão.


Sentiram que rodaram dentro do carro por cerca de vinte a trinta minutos.


A caminhonete freou.


O barulho dos trincos se abrindo deixava os três tensos. Poderiam executá-los ali mesmo ao abrir a porta. Poderia ser um seqüestro. Poderia ser apenas para roubar a Land Rover de Ivan e rodaram com o carro para deixar eles longe e não haver pistas.


Um homem abriu a porta.


Quando se acostumaram com a luz entrando novamente na caçamba, veio o reconhecimento dos rapazes:


-Vovô?






sábado, 7 de agosto de 2010

Capítulo 5 : Um programinha gótico

Os três desistiram do porão rock e foram para o flat de Ivan, ainda atordoados pela idéia de o avô ter laços com as mortes acontecidas. Ele era um velho carrancudo, mas nunca passava pela cabeça deles que era um homem ruim.



-Mas como vamos descobrir se há laços entre as duas mortes?-Perguntou Laura. –E mais, a gente nem sabe como o professor morreu, como podemos saber se foi assassinato?


-Às vezes penso que você não é você. –Contestou Ivan- Você se esqueceu que ele dá aulas também na Universidade Federal do Rio?


-E daí?


-Daí que não é qualquer um que se torna professor de universidade pública. Com certeza tem alguma nota aqui pela internet. –Disse, já abrindo as páginas de notícias. –Nossa, preferia não ter achado isso.


-O que diz primo? –Marcos pegava umas cervejas na geladeira de Ivan.


-‘Morre professor Carlos Vieira, um dos mais importantes conglomerados de comunicação do Brasil. Foi brutalmente assassinado nesta tarde de quinta feira em sua biblioteca, enquanto provavelmente editava seu mais novo livro.


O fato que mais intriga a polícia é que não foi identificado o objeto usado para fazer cortes profundos em suas costas e pescoço. ’


-Como o seu pai. –Laura preferia não acreditar, estava confusa.


-Eu acho que é tudo uma coincidência. Eles nem eram conhecidos, e meu tio foi morto com o crucifixo. Mesmo sem a gente saber como. Acho que vovô deveria estar falando de qualquer outra coisa. Não vamos ficar quebrando a cabeça com isso! –Marcos já abria a segunda cerveja.


-Pois eu acho que aí tem coisa. Vocês da família Kreischer que me desculpem, mas acho sim que tem dedo podre do avô de vocês no meio.


-Como é que é, garota? –Marcos foi pra cima dela como quem quisesse arrancar a cabeça de seu adversário com as mãos. - Você quer insinuar o que? Que a minha família é de assassinos? Quer ver um membro se tornar assassino neste instante?


-Marcos, menos. –disse Ivan se colocando entre os dois- A Lau está certa, temos que ver direito as coisas. Temos que achar algo que ligue um assassinato ao outro.


-Isto é SE um assassinato tem a ver com o outro, você quer dizer. Agora que o cara já morreu mesmo, só indo lá no cemitério pra ver se tem alguma coisa pra vocês pesquisarem.


Terminando esta frase, Marcos olhou para Laura, que estava sorrindo.


-Tem lanterna aqui, Ivan? Acho que é hora de um programinha gótico.

Capítulo 4 :Pub

A morte do professor Carlos deixou Ivan chocado. Duas mortes em dois dias, isso era de fato intrigante.




Mesmo assim o pub não foi descartado. Ele precisava de um ambiente legal, cerveja, música e amigos. Mesmo que a última opção não fosse ao plural.


-Ivan, sei que está passando por um momento chato, mas saiba que você pode falar comigo quando quiser.


-Eu sei Lau. Mas sou eu quem não quer falar nada mesmo. Obrigado por me convidar.


-Depois a gente acerta. -e soltou uma risada que felicitava as idéias na cabeça de Ivan.


-Hum, celular tá tocando. Alô, fala Marcos! Sei... Estou no novo pub de Copa com a Laura ...Pode, vamos demorar aqui, acho...ok, abraço.


-Ele vem?


-Disse que sim, um pulo da casa dele pra cá, esta hora. Você gosta dele, né?


-Tá louco, Ivan? Seu primo se faz de santinho para as meninas, diz que se sente sozinho, manda a maior lábia pela internet, e não passa de um conquistadorzinho barato! A graça é fazer com que ele ache que está podendo!-e soltou uma gargalhada gostosa.


-Ok, ok. Só queria que você entrasse pra família.


-Não por esse parente, Ivan.


Essa resposta fez Ivan pensar. Tomou mais um gole na cerveja, pegou mais uma batata frita e disse:


-Acho apenas que não conhecemos verdadeiramente as pessoas, muita coisa pode acontecer em pouco tempo e dar uma reviravolta na nossa cabeça.


-Você está dizendo isso em relação ao seu pai?


-A todos. -O celular de Ivan toca novamente, desta vez o número era da mansão. -Alô... Oi vó. Não, vou dormir em casa mesmo, mas amanhã almoçarei com a senhora. Beijo.


-Preocupada, não?


-Agora bem mais, com o assassinato do papai.


Ficaram conversando um pouco, tomaram mais umas cervejas e enfim Marcos chegou.


-Demorei muito? A pista até estava livre, mas eu mantive a velocidade.


-Uhul. –Disse Laura, irônica.


-Fiquei sabendo do professor Carlos, ele foi meu professor de Estado e sociologia, no curso de política, ano passado. Tenso.


-Não sabia que ele dava aula e outros cursos também. Grande homem.


Continuaram a falar sobre tudo, esquecendo um pouco de tudo o que tinha acontecido. Quando não aguentavam mais ficar no pub, resolveram procurar algum porão com mais rock. Porem, Marcos cismou que tinha que pegar uma blusa da banda Sodom que havia ficado na mansão. Fez com que todos voltassem para lá.


Chegaram em silêncio para não acordar a todos às duas da manhã, mas alguém parecia ainda estar acordado. Sr. Michael falava ao telefone na biblioteca e parecia muito nervoso.


-Eu não quero saber! Dê seu jeito e ponha seus homens nisso. Já foi meu filho e agora mais um! Desse jeito terei eu que tomar todas as providências, e não queira saber quais providências serão essas!- Desligou o telefone bruscamente, e foi em direção à porta, se sentido vigiado.


Não havia ninguém lá.


No carro, os três respiravam ofegantes de tanto correr. Depois de dez segundos de silêncio Ivan perguntou:


-Alguém mais acha que ele estava se referindo ao professor Carlos?

Capítulo 3 : Minuto de silêncio

Ivan entrou na biblioteca da mansão, ligou o computador, pegou seu mp3 e conectou nele. Em um momento chato, nada melhor que suas músicas favoritas para tocar.
  Motörhead sempre o distraía. Mas desta vez não foi assim, ele percebeu que nunca tinha entrado na biblioteca para ver os livros. O computador era sempre o alvo, era o que tinha mais memória e sempre rodava tudo mais rápido.
  Vários livros sem nome, uns bem velhos, uns manuscritos com símbolos que ele não entendia.
  -Papai sempre foi excêntrico, vai entender pra quê isso...-resmungou consigo.E logo pegou um lenço que estava em uma doma de vidro.-‘F.E.C.’ ,que merda seria isso?
  -Não deveria chamar os objetos de seu falecido pai de ‘merda’.
  -Desculpe, vovô .-disse Ivan, se recuperando do susto.
  -Também não deveria escutar rock tão alto. Deveria estar em luto.
  -Perdão, vovô.-Ivan respeitava muito seu avô. Principalmente por ser um ex-militar ainda reconhecido pelas forças armadas. Desligou sua música e disse: - sabe papai sempre foi muito enigmático. Estava sempre cercado por pessoas importantes e nunca nem sequer me dava atenção. Lembro da mamãe reclamando isso também...-A frase de Ivan foi cessada por um tapa daqueles que tanto fazem barulho quanto ardem também.-Vo-vovô.
  -Você deveria se calar, garoto. Sua mãe de nada sabia, não respeitava a posição importante de seu pai. E me parece que você puxou a ela. Honre pelo menos o sobrenome que você herdou de minha parte da família. -O velho senhor  Michael Kreischer, de bengala e boina, saía pela porta da biblioteca, sem olhar pra trás.
  Ivan, sem entender nada ainda, colocou o lenço de volta na doma e chorou. Não pelo tapa, não pelo seu pai. Chorou a morte de sua mãe, como nunca havia chorado.
  Marcos dormiu no mesmo quarto que Ivan. Bem, não dormiram. Ficaram jogando no laptop de Marcos a noite inteira. E como sempre, Marcos jogava , falava sobre mulheres e seus hilários encontros sexuais com algumas delas.
  Como sempre, fazia Ivan rir.
  De manhã, os dois primos resolveram dar uma volta pela praia e de tarde Ivan foi à faculdade.
 Todos sabiam do acontecido. Ou por fofoca ou pela imprensa.
  Ivan só não detestava a imprensa porque cursava comunicação, afinal eram seus colegas de trabalho que estavam ali.
  Laura veio falar com ele. Simplesmente uma linda e encantadora menina que pra desespero de Ivan, sempre foi apenas uma amiga.
  -Ei, me acompanha depois da aula? Quero te pagar um café.
  -Café, Laura?
  -É que inaugurou um pub em Copa. Toca uns rocks legais e jazz. E fora que eles têm um acervo gigante de cervejas de garrafas verdes e azuis, que você tanto gosta. Vem comigo.
  -Sabia que tinha álcool. Mas deixa então seu carro lá em casa e a gente vai no meu, ok?Onde está o professor que nunca chega? Vou deixar ele do lado de fora da sala, como ele costuma me deixar quando estou atrasado!-Nesse momento entra a coordenadora do curso:
 -Boa tarde, sentem-se todos. Venho lhes informar que o professor de vocês que leciona a matéria de história da comunicação, Carlos Vieira de Carvalho, faleceu no início da tarde. Como normas da faculdade, darei aula à vocês hoje, e na semana que vem estaremos com outro professor. O dia, e o horário do velório e enterro de nosso amigo serão enviados para o e-mail de vocês. Agora peço um minuto de silêncio em respeito ao grande homem que perdemos.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Capitulo 2: Protegendo pra sempre

 O corpo de Mauro não demorou muito para ser liberado do IML. Lá, constataram morte por inalação de combustível, o que fez estender o raio de busca da perícia criminalística. Os cortes foram feitos pelo próprio crucifixo de Mauro, porém havia apenas as digitais dele mesmo. Mas era impossível ele ter atingido tantos ângulos diferentes com as próprias mãos.
  O enterro acontecia às 18hs, do mesmo dia. Muita gente de terno, imprensa e polícia. Alguns amigos de Ivan compareceram, mas praticamente não foram notados. Nem por Ivan.
  Ivan não conseguiu comer nada nem antes de ir ao enterro nem depois. Suas lágrimas caíam dos seus olhos como uma piscina transbordando.
  Ele ainda não entendia por que.
  Chegou à mansão do pai e foi direto ao à parte da grande construção destinada às suas crenças: havia grandes estátuas, imagens de santos e muitos objetos de ouro
  Como um homem que prezava tanto a paz poderia ter despertado tamanha ira?
  Ivan se levantou do banco onde estava e se deparou com Marcos, seu primo.
  -Não queria te incomodar.
  -Não incomodou, estava querendo entender, Marcos.
  -Deixa isso pra polícia. Eles podem fazer essa parte do entendimento e nos dar mastigado. Pra que quebrar a cabeça agora?-Ivan deu um leve sorriso. Apenas Marcos tinha o poder de o fazer rir nas piores situações.
  -Vamos pra casa, você não comeu nada, Ivan. Prometi à tia Lis que cuidaria de você por toda a vida. Não tenho feito isso muito bem, mas estou tentando. –Ivan se lembrou dessa promessa. Ele tinha cinco anos e Marcos, sete. Ia jogar futebol na rua e Lis, a mãe de Ivan, fez Marcos prometer que cuidaria sempre do primo enquanto ela não tivesse por perto. Duas horas depois eles retornaram à mansão e seu pai havia lhe dito que Lis morrera de infarto. Tinha sido a primeira vez que Ivan tinha ouvido essa palavra.
  Sua avó pedira à cozinheira que fizesse uma salada bem caprichada e um suco. Sabia que quem vê um corpo no estado que aquele estava nunca conseguiria comer carne no mesmo dia.
  -Parabéns, Célia! Lembre-me de contratá-la quando minha avó se enjoar de você. –Ivan tentava brincar com a cozinheira, para distrair a si próprio.
  -Você pode me chamar a qualquer momento, menino! Sabe que não gosto de te ver comendo aquelas lasanhas congeladas. –Célia sempre dizia isso.
  -Vai continuar com o flat em Copacabana ou virá morar aqui?
  -Sabe Marcos... Acho que os dois. Não quero me privar de ter essa liberdade que demorei tanto pra conquistar. Mas, estou em um momento que gostaria de estar com meus avós.
  -Minha pobre casinha também estará à disposição, primo. –‘Pobre casinha’ era o nome dedicado à cobertura da família de Marcos, em São Conrado. Nada pobre.
  -E quando ela não esteve?-um abraço fechou essa conversa.

Capítulo 1: A queda de um grande.

  Cinco e meia da manhã.
  O telefone de Ivan toca. Ele imagina quem poderia ser a esta hora, enchendo o saco tão cedo de alguém que só levanta ao meio dia.
  A notícia não é nada boa.
  Mauro, seu pai, fora encontrado morto em sua piscina interna na mansão da família. A notícia fez com que Ivan se levantasse da cama, e ainda de pijama pegasse o carro e fosse ao local.
  Como alguém poderia ter feito isso?Mauro era uma pessoa boa, administrava os negócios da família, que logo passariam para Ivan e era extremamente religioso.
  Seria um acidente?
  Chegando ao local a resposta: Não. Seu pai fora morto com requintes de crueldade.
  Ele teria sido torturado, pois o corpo estava com marcas de cortes profundos, havia queimaduras expostas por todo o corpo dando a idéia deque alguém o ateou fogo. E o pobre homem ainda estava com seu crucifixo apertado em uma de suas mãos, como quem quisesse proteger.
  A imagem chocou Ivan. Havia perdido sua mãe quando ainda era criança, e agora com apenas dezenove anos perdeu seu pai. Herdaria dinheiro suficiente para manter a vida como tinha mantido. Seu pai era um dos principais nomes da indústria de combustíveis da América Latina. Por mais que ele soubesse que teria que tomar as rédeas da situação uma hora ou outra, não estava pronto para isso tão de repente.
  Sua avó o amparava. Mulher forte ela era. O avô estava ao lado do corpo do filho, já retirado da piscina.
  A perícia continuava a procurar evidências sem sucesso. A secretária particular de Mauro já providenciava tudo sobre o enterro e notas em jornais.
  Ivan não conseguia entender ainda.
  Seria vingança? Mas de quem?  Alguém que queria talvez assumir seu posto?
  Tudo estava muito confuso. Ivan só queria poder acordar.