segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Capítulo 19 : Rafael, como o anjo.


  -Como assim? –Perguntou Marcos, de um jeito que parecia estar fugindo da situação.
  -Por que não sabem de você no hospital? Por que você estava aqui?-Ivan falava desesperado com Marcos, que olhava assustado para ele e para o pessoal de Sandra.
  -Eu... Eu... Desculpa. A mansão estava destruída, eu voltei lá para levar Laura comigo, mas vi sangue e vidros quebrados. A única coisa que imaginei fazer foi vir para a igreja.
  -Marcos, você é cético.
  -Ivan eu estou desesperado. – Marcos começou a chorar e Ivan vendo aquilo não sabia como agir. Não se lembrava de seu primo chorando, e ele sempre se fazia de forte em todas as ocasiões. Certamente ele não tinha culpa de nada.
  -Ivan, fique aqui com Marcos. Vou procurar o padre. –Disse Sandra, indo em direção à um frei que molhava flores aos pés de uma estátua da santa da paróquia.
  -Padre?-Marcos perguntava ao primo.
  -Pois é, é melhor você saber da história toda. –Ivan contou sobre tudo, desde o que sua avó lhe contara até o que Sandra havia comentado, passando por experiências que os dois já viveram na família.

  Laura estava com fome. Não via mais seu sequestrador, o vento quente havia amenizado a dor que o suor fazia nas cicatrizes. Sua mão estava dormente e provavelmente a ferida estava infeccionando.
  Onde ela estava? Onde seu sequestrador estava? E por que uma pessoa conhecida estava fazendo isso com ela?
  Não há explicações para pessoas loucas. Ele simplesmente havia incluído ela nos planos de morte que havia traçado aos outros. Só que com ela seria lento. Ele a deixaria morrer de fome? Ou de alguma doença causada pelos cortes?

  -O que a senhora gostaria de falar com o padre?É difícil ele receber pessoas sem hora marcada, mas dependendo da gravidade, ele lhe atenderá. –O frei falava pausadamente. Sereno. Um senhor nos seus sessenta anos de idade.
  -Senhor frei, eu sou da polícia. Preciso realmente falar com ele. Não é assunto paroquial.
  -Entendo. Venha comigo na sala de visitas. Informarei à ele e provavelmente lhe atenderá.
  -Sim, mas diga apenas a ele que somos da polícia. Por favor. Não quero que ninguém mais saiba. – Sandra e seu grupo foram caminhando para a pequena saleta ao lado do altar.
  O cheiro repugnante das flores da igreja havia sumido. Nem parecia mais estar em uma igreja, não fosse por uma foto de Nossa Senhora das Dores pendurada na parede.
  -Gostariam de um café? –Dessa vez a pergunta veio de um rapaz, com vestes de coroinha, apesar da idade. Provavelmente uns vinte e dois anos.
  -Eu gostaria sim, obrigada. –Disse Sandra, sendo copiada pelos seus colegas.
  O rapaz sumiu por uma porta. Outra foi aberta.
  -Pois não? Sou o padre Caio. Podem entrar. –Um homem de uns cinquenta anos de idade, apenas com uma calça social preta e a típica blusa preta com colarinho branco dos padres abriu a porta, mas sua feição era de medo. Sandra logo sentiu isso.
  Entraram. Sandra sentou em uma das duas cadeiras de frente para a mesa do padre e os demais em uma poltrona ao lado.
  Sandra começou a falar a história desde o início, não entrando em detalhes que não cabia ao padre saber.
  -Lucio faleceu de forma trágica. O resto da família dele era toda da Itália. –Disse o padre a Sandra.
  -Eu sei disso. Mas o que mais me intriga é que quando o caso veio em minhas mãos, eu não tinha nenhum relato de nenhum parente dele no Brasil. E descobri hoje que o senhor está com a guarda de um filho dele que eu nem sabia que existia.
  -Sim. O fato de não existir nenhum parente de sangue de meu amigo aqui é verdade. O menino é adotado. –O padre fez uma breve pausa, como quem busca no passado mais respostas. –Ele o adotou quando o menino tinha dez anos. Foi mais ou menos na época em que Lúcio descobriu que não poderia ter filhos. E ele sempre sentiu a necessidade de passar seus conhecimentos adiante. Visitou um orfanato e o adotou. O menino nem batizado era, acredita? Foi abandonado no orfanato ainda sem ter nem dois anos. Estava com sinais de agressão por todo corpo. Com sete anos mal falava.
  -Preciso conversar com esse menino. Sabemos que um dos ensinamentos que Lúcio precisava passar a ele é uma das peças do quebra cabeças que tentamos desvendar aqui. Por favor, padre. É algo que pode evitar que mais pessoas morram brutalmente como o Lucio. – Nesse momento a porta se abriu e o cheiro de café tomou conta do ambiente.
  -Desculpa senhores. O café. –disse o menino, envergonhado por atrapalhar.
  -Não está atrapalhando, Rafael. Entre, essas pessoas gostariam mesmo de conversar com você. –Disse o Padre.
  -Rafael. Que lindo nome. Muito prazer. –Disse Sandra com um sorriso.
  -Sim. Rafael. Como o anjo. As freiras do orfanato costumavam dar nomes de anjos aos meninos. –Disse o padre.
  Rafael sorriu de volta para Sandra. Serviu o café a todos. Parou um instante e disse:
  -Desculpa, já volto. Esqueci de pegar o açúcar. –E envergonhado, virou para Sandra olhando-a da cabeça aos pés e continuou. –A senhora prefere adoçante?
  -Açúcar mesmo está bom.
  Rafael saiu porta afora, mas não entrou na outra na qual havia saído um tempo atrás. Saiu pela porta que dava para a igreja.
  Cruzou todo o salão passando por Ivan e Marcos. Parou. Deu um sorriso e continuou a olhar para eles enquanto andava.
  -Aquele não era o amigo nerd da Laura?- perguntou Marcos.
  -Não sabia que ele era coroinha. –Ivan disse se levantando e olhando para trás, em direção a Rafael, que entrava em uma porta no final do salão da igreja. Ainda sorrindo.
  -Gosto menos ainda de nerds que são coroinhas. Qual o motivo do sorriso dele?
  -Não sei, mas ele saiu da porta que Sandra entrou.
  -Pra mim é motivo para segui-lo.
  Marcos e Ivan foram em direção a porta que Rafael havia entrado. Uma escada.
  Provavelmente para a torre do sino.
  Sangue.

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